Por: Israel Boniek Gonçalves
Aprouve a Deus, na sua bondade e sabedoria, revelar-Se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade (cf. Ef 1, 9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina.
O termo “testamento” traduzido do grego “diathéke”, expressa pacto, aliança e é o único indicativo que Deus ofereceu ao homem a iniciativa de se relacionar com Ele e de se fazer conhecer, fato este que depende inteiramente de Deus e não do homem, ou seja, a manifestação de Deus ao homem se dá por Sua vontade, é Deus quem provê os meios para que o homem possa buscá-lo e buscando-o o encontrar, Frente a isso, no contrário o que seria do homem, e o que poderia ele fazer para contatuar com o Criador? Em Gênesis cap. 9, 9ss após o dilúvio, Deus diz a Noé e a seus filhos: “Eis que estabeleço minha aliança convosco e com vossos descendentes depois de vós e com todos os seres animados que estão convosco”. Em Êxodo 24, 3-8, lemos uma significativa passagem relativa a uma aliança sináitica entre Deus e Israel que durou até Cristo. No profeta Jeremias 31,31ss, temos a promessa de uma nova aliança (aquela que seria inaugurada por Cristo) “Eis que dias virão – oráculo de Javé - em que selarei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma nova aliança não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito – minha aliança que eles mesmos romperam, embora eu fosse o seu Senhor, não obstante eu os haver desposado, diz o Senhor. Porque esta é a aliança que firmarei coma casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor. Eu porei minha lei no seu seio e a escreverei no seu coração; então eu serei seu Deus e eles serão o meu povo. Não ensinarás jamais cada ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhecei a Javé, Porque todos me conhecerão, dos menores aos maiores – oráculo de Javé, porque vou perdoar a sua culpa e dos seus pecados jamais me lembrarei”. E o autor da Carta aos Hebreus 9, 11-22 assim explica o sentido do novo “testamento”e da nova “aliança” que é sancionada com a vinda de Cristo: “Cristo, porém, veio como sumo sacerdote dos bens vindouros. Ele atravessou uma tenda maior e mais perfeita, que não é obra de mãos humanas, isto é, que não pertence a esta criação, não por meio de sangue de bodes e de bezerros mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção. Portanto, se o sangue de bodes e de touros e a cinza de uma novilha, aspergido sobre os contaminados, os santificam purificando sua carne, muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo. Por isso mesmo, Ele é o Mediador da nova aliança, afim de que intervindo a morte para a remissão das transgressões que havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da eterna herança àqueles que tem sido chamados. Porque, onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador; pois um testamento só é confirmado no caso de mortos; visto que de maneira nenhuma tem força de lei enquanto vive o testador. Pelo que nem a primeira aliança foi sancionada sem sangue; porque, havendo Moisés proclamado todos os mandamentos segundo a lei a todo o povo, tomou o sangue dos bezerros e dos bodes, com água e lã tinta de escarlate, hissopo, e aspergiu o próprio livro e todo o povo dizendo: Este é o sangue da aliança que Deus vos ordenou. Em seguida ele aspergiu com o sangue a tenda e todos os utensílios do culto. Segundo a lei, quase todas as coisas purificam com sangue; e sem efusão de sangue não há remissão”. E no evangelho segundo Mateus 26, 27-28, essas palavras são postas na boca do próprio Cristo: “Depois, tomou o cálice e dando graças, deu-lhe dizendo: Bebei dele todos; pois isso é o meu sangue, o sangue da aliança (diathéke), derramado em favor de muitos para a remissão dos pecados”.
Estamos acostumados a nos preocupar apenas com a parte literal do conteúdo, ou seja, sua informação direta, e a sua transmissão letral de conhecimento imediato. Porém a palavra de Deus vai além do conteúdo filológico e lingüístico. Ela está exposta no sentido global do texto, que depende da “forma” em que o texto é apresentado, e mais do que isso, para melhor compreensão da mesma temos a certeza de que o seu discernimento deve partir do pressuposto que a mesma é artigo de fé, sendo que por um lado temos a forma e a apresentação do texto bíblico e do outro lado temos o leitor, o receptor da revelação. Nesta visão, temos como ponto chave desta dualidade a ação da vontade de Deus e é em Jesus, o Logus universal, o Verbo divino encarnado, conforme explicita o apóstolo João no cap. 1,1 afirmando que o verbo era Deus: “kai Theos en ho Logus”, que Deus nos demonstra e nos concede a graça do entendimento e acesso ao “Pai”, que é Deus, sede da sabedoria e resposta a todas as nossas indagações.
Por isso, é necessário que os valores escolhidos e procurados na vida sejam verdadeiros, porque só estes é que podem aperfeiçoar a pessoa como um todo, realizando em sua natureza (humana) a vontade Daquele nos fez a Sua imagem e semelhança. Não é fechando-se em si mesmo que o homem encontra esta verdade, mas abrindo-se para recebê-la mesmo de dimensões que o transcendem. Esta é uma condição necessária para que cada um se torne ele mesmo e cresça como pessoa adulta e madura, no amor, na fé e em Cristo Jesus.
Prof. Israel Boniek Gonçalves
Diretor Pedagógico FAEST
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